O CIDADÃO, AS SUAS METAS E O SEU ALCANCE
Povo social e culturalmente diversificado nas áreas de, bagagem educativa, confronto á lei da sobrevivência e eleição do modo de vida segundo as suas preferências pessoais, está hoje muito repartido não só nessas mesmas áreas como também nas localidades geográficas em que habita, funções que desempenha, e suas convicções pessoais, em especial de cariz social. Tudo perfeitamente correcto, necessariamente aceitável, e mais que compreensível perante a Sociedade Adulta em que vivemos, já um pouco entrada no século XXI.
No entanto, na sua generalidade, mais ou menos tocados e tantas vezes acentuadamente atingidos pela, vida, futuro e destino da sua Terra Natal, dos seus familiares, amigos e conterrâneos, e de todo o património material, social e cultural que herdámos daqueles que nos antecederam, situação aliás em que a ausência de sensibilidade a tais considerandos não é muito frequente entre os quantos de alguma forma estão ligados a Mouriscas, evidentemente cada qual a seu modo.
Entretanto, os caprichos do destino, o decorrer da vida umas vezes de modo natural outras talvez acidental, e outras ainda consequência das nossas próprias insuficiências pessoais, nem sempre nos trazem o confortável equilíbrio de necessidades e soluções que desejamos e entrando-se deste modo na tentativa de identificar e resolver os males que nos atingem, estes, mais propriamente falando, resumindo-se a termos caído na situação de interiorização geográfica enfermando pelo empobrecimento de meios humanos e materiais, ausência de auto-suficiência em meios de sobrevivência, desmotivação, abandono, degradação e confusão em torno de como interagem as origens de tudo isso, e, como íamos dizendo, tentando-se identificar essas origens cada um a seu modo, mas quase invariavelmente caindo-se na tentação de endereçar tais responsabilidades para a área alheia, uns dirigindo-as para o Município, outros para o Governo, Autarquia Local, partidos, sistema político, repartição dos investimentos, condicionantes sociais, rivalidades, etc., enfim tudo o que seja o alheio, e naturalmente com uma tirada de oratória a acompanhar até cheira a altruísmo.
Só que o erro fatal da situação tem sido exactamente esse, na medida em que pretender um desenvolvimento em Mouriscas apenas com críticas e sem o envolvimento primário dos Mourisquenses nesse mesmo desenvolvimento é pura utopia. E porque haviam os outros de se preocupar com os nossos males quando nós próprios não o fazemos? Naturalmente será efectivamente verdade que as Instituições Oficiais alguma coisa poderão fazer pela situação mas se não forem os Mourisquenses a dar os primeiros passos será um sonho de infância a diluir-se no horizonte das nossas utopias.
Desçamos de novo ao fundo da questão. – Quem em Mouriscas dispõe de condições para mais decisivamente fazer algo pela situação, são:
- As Instituições Locais mais ou menos vocacionadas para tal, começando pela Autarquia.
- Os conterrâneos social e economicamente em situação que em maior ou menor grau lho permitam.
- Os intelectuais filhos da Terra que, pela sorte, esforço, mérito ou destino conseguiram essa craveira educativa.
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E o que é que na realidade se passa?
Por alguma razão, seja ela qual for, e sem esquecer o quanto alguns Mourisquenses tem dado de si para ultrapassar situações criticas da sua Terra, para esta delicada situação de confronto á via desenvolvimentista ninguém está receptivo a faze-lo, ninguém está disponível para tal, de um modo geral todos tem a sua vida que lhes dá que fazer, todavia mesmo assim invocando os sagrados direitos do cidadão, a necessidade de os contemplar e as obrigações irrejeitáveis de quem de direito para as satisfazer. As excepções a esta regra são em número insuficiente para ultrapassar tal busílis, na medida em que não é coisa que se consiga com três ou quatro despretensiosos voluntários, e ainda menos quando não são heróis nem magnatas da finança. São invocados milhentos pretextos que apenas tem o mérito de os afastar daquilo que é fundamental e decisivo para o futuro e os destinos de um Povo e um Território que é afinal aquele em que vivemos.
Chegado aqui verificamos encontrarmo-nos perante a fatalidade de estar em Terra de Ninguém, e dissertar longamente pelo vasto leque de explicações á volta de tão delicado problema é tempo perdido.
B. Sério