Muito boa tarde caros amigos e caras amigas de Mouriscas
Começo por agradecer a vossa presença aqui neste ginásio, sem a qual, todo o esforço para organizar este debate, não faria sentido.
Este encontro de amigos, quer sejam nascidos ou adoptados desta terra surge numa altura muito própria, uma altura de crise das economias mundiais e também crises locais, casos em que todos vemos diariamente e temos próximo de nós, alguém que está sem trabalho fixo, casos de alcoolismo e maus-tratos a serem desculpados com as frases “ entre marido e mulher não metas a colher” ou “isto não é nada, daqui a pouco está tudo bem” casos diários de assassinatos, roubos; alguém que não se consegue deslocar para ir ao médico porque fisicamente não pode ou ainda alguém que não leva os filhos á escola porque prefere o absentismo escolar á educação básica que o estado ainda facilita.
Em suma, quando algo nas nossas vidas não corre como entendemos que deveria ser, não procuramos mudar e desistimos.
A ideia deste encontro surgiu-me porque percebi que o grupo de amigos que constitui o Mouriscas em Movimento se encontrava pouco motivado e haveria que encontrar uma base mais ampla de discussão e procura de formas de atacar estas mesmas questões.
E porque Mouriscas em movimento precisava de estimulo, decidimos também estimular todos os Mourisquenses com este evento porque achamos que é o acto mais eficaz neste momento, em que tudo está tão disperso ( desde as leis de ordenamento do território, passando pelas de carácter social e até pelas politicas partidárias que são sempre as mesmas) e tirar alguma aprendizagem de como se pode melhorar a participação cívica da população.
Mouriscas teve em tempo uma economia ligada à terra e umas pequenas indústrias. A seguir veio a emigração e o emprego com ordenado certo ao fim do mês depois veio a imigração e muita gente do exterior a trabalhar onde o português já não estava habituado (escravidão), e agora neste momento temos um vazio porque a garantia de emprego deixou de existir e o próprio modelo económico vigente também está em rotura.
Mas será possível regressar àquela economia agrícola de subsistência ou de sobrevivência ou mesmo de fome (Fome no sentido lato da expressão)?
Nesta sala ninguém pensará que essa será uma solução de futuro. Poderemos continuar com a oliveira, a figueira e a horta talvez em moldes mais optimizados, talvez como um complemento económico, talvez por consciência de consumo de produtos com uma qualidade conhecida, mas nunca como forma única de economia caseira.
De igual modo, as indústrias tradicionais, tanto a de seiras e capachos como os tijolos, têm cada vez menos procura nunca serão áreas de grande empregabilidade.
Por isso caros amigos mais uma vez vos levo pensar e a ouvir o que têm a dizer os nossos convidados para falarmos todos do que foi do que é, e de como será o futuro de mouriscas neste século XXI para podermos dar aos nossos descendentes o que lhes pertence, a qualidade de vida, partilhada, entre a cultura de uma grande cidade e o crescimento para o exterior de uma vida vivida á sombra de uma árvore de campo ( não de uma bananeira....)
Para além disso deixo à mesa e a vós Mourisquenses 3 questões:
1º O que queremos nós do passado histórico de Mouriscas.
2º Mouriscas tem capacidades e potencialidades para se desenvolver sustentadamente atendendo à sua situação geográfica, à sua configuração paisagística e quanto à existência da EPDRA?
3º Como poderão as associações existentes em Mouriscas participar numa mudança qualitativa nas áreas social, económica, cultural, desportiva e de lazer?
Amadeu Bento Lopes