Desde há alguns anos que tenho em minha posse um livro de 4705 páginas, intitulado ANUÁRIO COMERCIAL DE PORTUGAL (edição da Empresa Nacional de Publicidade, proprietária do “Diário de Notícias”). A maior curiosidade é que o mesmo é de 1956, ou seja, tem precisamente 50 anos.
Nesse mesmo livro encontram-se inúmeras curiosidades relacionadas com as actividades económicas do nosso país e, obviamente, da nossa freguesia.
Pertenço ao grupo daqueles que pensam que, por vezes, é fundamental conhecer o passado para compreender o presente; como tal, o citado livro revela algo que é do conhecimento de alguns dos nossos conterrâneos, mas que para mim são apenas memórias dos relatos que me são feitos por pessoas que viveram nessa época.
Com esse livro descobri que a nossa freguesia tinha nesse ano 4280 habitantes. Nos Censos de 2001, o número de habitantes era de 1946. Isso significa que houve uma diminuição de 55% na população … isto em apenas 45 anos. É obra!!!
No decurso das próximas semanas, vou publicar uma rubrica intitulada “Sabia que há 50 anos…”, na qual vou recordar - a uns - e dar a conhecer - a outros - a realidade comercial e empresarial da nossa freguesia.
Com isso poderemos reflectir sobre o presente, pois repararemos que houve uma certa estagnação em termos económicos; alguns sectores, como a cerâmica e a produção de azeite (entre outros exemplos), sofreram um claro retrocesso. Não havendo modernização e investimento, a oferta de emprego diminuiu, o que levou a um movimento migratório que quase “esvaziou” a freguesia.
Urge reflectir … e tentar encontrar novos caminhos …
L. G.
IV
Caro amigo Doutor Carlos Bento, Casas Pretas, 1933
Congratulando-me pelo comentário que dirigiu a Joaquim de Matos para “Mouriscas em Movimento” relativamente à rubrica “Mouriscas no seu dia-a-dia” será de facto fundamental dar conhecimento aos mais novos tudo quanto nos seja possível recordar, como foi a vida noutros tempos, o que teriam sofrido os nossos antepassados por falta de meios adequados, que só com o tempo puderam evoluir!...
Mouriscas situa-se na margem direita do Rio Tejo e a cerca de
Nas campanhas das ceifas partiam destas redondezas muitos grupos de homens, a pé, que se estendiam por todo o Alentejo e Espanha.
Vulgarmente, a referida campanha era de 40 dias, se não fosse tomada de empreitada… De qualquer forma essa empreitada era de “ver a ver”.
A dormida era numa margem que se limpava ao contorno do corpo humano, onde se colocava um pouco de restolho. Por cima seria uma manta.
O almoço durante 40 dias seria de grão ou feijão-frade; à tarde o “escaspacho”: pão mais seco com alho, sal, vinagre e água; à noite pão com queijo.
Para além da ceifa eram os cortes de árvores e fabrico de carvão.
Outros se dedicavam a fazer poços à procura de água, ou minas ao fundo das encostas, para abastecerem as zonas hortícolas, como recurso de sobrevivência.
Os jovens até aos 14 ou 15 anos andavam descalços.
“Mouriscas em Movimento” coloca ainda em destaque o que era quase impensável, que as donas de casa iam à fonte com um cântaro de barro à cabeça, buscar água para beber, e com frequência a poços ou outras nascentes, para todo o consumo interno das suas casas.
Nessa altura não havia gás e lá iam as mulheres aos grupos, a caminho dos matos, para trazerem lenha, pois só assim poderiam fazer as suas refeições.
As habitações não reuniam condições de higiene, nem existiam casas de banho.
É assim, pela grande diferença entre o passado e o presente que existe a rubrica “Mouriscas no seu dia-a-dia”.
Escrever, ler e compreender
São factores que a vida tem.
É importante ler para saber
Falar e também dizer
Como foi a vida do além.
Cordiais saudações
Joaquim António de Matos
O EQUILÍBRIO DA SOCIEDADE
A história recente em Portugal demonstra que o equilíbrio da sociedade na sua vertente económica é a fundamental, apesar de existirem outras, mas evidentemente que dependem desta. Sendo assim, para que a sociedade na parte social e da própria natureza funcione correctamente é necessário o dito equilíbrio económico.
Ora, em Portugal antes do 25 de Abril, existia um sistema económico – o capitalismo – com um regime político – o fascismo – que durante décadas desequilibrou a sociedade Portuguesa. A classe operária, os trabalhadores, os pequenos agricultores, comerciantes, industriais e outras camadas da população viviam explorados, sem direitos económicos, sociais e políticos, mas, em contrapartida meia dúzia de grupos económicos da grande burguesia detinham toda a riqueza produzida no País, esta, produzida por aqueles que eram explorados.
Com a revolução do 25 de Abril, e com a participação fundamental do Partido Comunista, alguns militares progressistas e uma parte do povo, tentou-se o equilíbrio da sociedade Portuguesa através da Reforma Agrária, das Nacionalizações, dos direitos sociais e políticos, etc. etc., com a finalidade de alterar o sistema económico e político noutro mais equilibrado, mais progressista, no fim de contas a favor do povo e do País. A grande burguesia, classe minoritária e parasitária, com este equilíbrio económico, social e político que estava a nascer em Portugal começa a perder os grandes meios de produção e privilégios que possuía, estes humanamente e cientificamente ilegais, herdados do regime fascista. Mas apoiada pelas direcções dos partidos da extrema direita, da direita, da social democracia, pequenos burgueses e revisionistas de todos os matizes e tempos, herdeiros do sistema económico do fascismo, uns conscientes outros inconscientes, prepararam a contra-revolução que está em marcha em todas as direcções da sociedade Portuguesa para destruir o equilíbrio que estava a surgir e ao mesmo tempo satisfazer e repor com juros altíssimos, os interesses económicos e políticos da grande burguesia. Portanto a destruição do tecido produtivo, económico, social e político do País ou seja a Revolução Democrática e Nacional nascida com o 25 de Abril. (Todas as contra-revoluções são conscientes, dirigidas pela grande burguesia e evidentemente que atinge Mouriscas e o seu Povo).
Para iniciar, novamente o equilíbrio da sociedade a grande maioria do Povo Português que está a perder direitos económicos, sociais e políticos, o seu nível de vida constantemente a descer, tem urgência e necessidade histórica de ter consciência a que classe pertence: social, económica e política e ao mesmo tempo assimilar a concepção científica do mundo, para que através do voto altere o sistema económico e político que começa novamente em grau superior a oprimir e explorar o Povo Português.
As grandes empresas produtivas, financeiras e outras, todas estratégicas e fundamentais para o desenvolvimento e bem estar do Povo e do País têm de ser dirigidas por um verdadeiro Estado Democrático, onde esteja o Partido Comunista Português com o seu projecto de equilíbrio e transformação da sociedade rumo ao Socialismo.
O voto terá que ser dirigido neste sentido caso contrário é o agravamento das condições de vida das camadas pequenas e mecanicamente transformar-se-á no total desequilíbrio da grande maioria do Povo e de toda a Sociedade Portuguesa.
Quintino Pardal
Caro mouriscasmovimento,
Comentário:
Caríssimos, Independentemente de concordar ou discordar da análise efectuada à questão que levantei penso que seria importante que outros Mourisquenses emitissem a sua opinião. Pela minha parte, como já se percebeu, sou adepto de uma TERCEIRA VIA que corte com o passado, pois entendo que o "status" que perdura há décadas não nos conduziu a nada. E quando digo que se deve cortar com o passado isso significa que se deve aproveitar e preservar aquilo que é/foi válido... e por de lado aquilo que nos dividiu. Penso que os Mourisquenses não quererão mais do mesmo!... Há 50 anos tínhamos cerca de 5.000 habitantes, hoje são cerca de 3.000 e daqui a outros 50 anos quantos serão?!... Pelo andamento das coisas restarão 1.000, ou seja a desertificação humana das Mouriscas continuará de forma imparável!... É disso que se trata. A tal TERCEIRA VIA que defendo passa pela criação de diversas Associações de cariz económico, social, cultural e desportivo e outras que englobem todos os lugares da Freguesia, logo com a participação de todos os que estiverem interessados em aderir a cada Associação. Esta deverá ser a alternativa final, pois não são conhecidas iniciativas de vulto por parte de privados, que tenham contribuído para qualquer mudança efectiva. Os órgãos autárquicos (Câmara e Junta) deveriam colaborar/acompanhar este processo, mas deixando a condução do mesmo às pessoas mais competentes das Mouriscas. Como é óbvio isto significa, de alguma forma, cortar com o passado, pois tudo o que se fez até hoje foi pensado de forma perfeitamente unilateral...mais parecendo que pequenas partes da Freguesia se viraram contra as restantes!... A sede das referidas associações deverá/deveria ser escolhida de acordo com as potencialidades específicas da terra (exemplos: Associação Florestal das Mouriscas a sediar nas Entre-Serras Lercas ; Associação para as Potencialidades do Tejo - que as tem- a sediar nos Engarnais, Associação Cultural a sediar no Casal da Igreja, etc). Com os valores Mourisquenses , muitos deles na diáspora, seria também possível criar uma grande força de "lobying" para ajudar a levar por diante os objectivos que fossem traçados. Assim fosse possível congregar a vontade de todos! Esperando ter contribuido com mais algumas achegas para inverter o rumo do empobrecimento das Mouriscas sou a enviar um abraço.
AMSLouro 01/08/2006
Numa reunião recente, os elementos que fazem parte do grupo “Mouriscas em Movimento” resolveram emitir o seguinte comunicado:
1) manifestamos abertura para aceitar a colaboração de novos elementos que connosco queiram cooperar;
2) reafirmamos a nossa total independência em termos políticos;
3) relembramos que o nosso blog é um espaço de discussão de assuntos relacionados com a nossa freguesia e o que nos move é o desenvolvimento da mesma;
4) publicaremos todos os artigos que nos sejam enviados, desde que os mesmos não contenham linguagem obscena e que não entrem em ofensas personalizadas;
5) agradecemos as mensagens que até ao momento nos foram dirigidas;
6) adicionamos à lista de colaboradores (anteriormente divulgada) três novos elementos:
- Luís Barbosa
- Maria Antonieta Barbosa
- Ricardina Lourenço
A Redacção